quarta-feira, 18 de abril de 2012

Momento histórico na eleição e posse da nova diretoria do CELLOS-MG

       Trans e lésbica assumem a presidência e a vice-presidência do CELLOS-MG
A Assembléia Geral de Eleição e Posse da Direção do CELLOS-MG para a gestão do biênio 2012 a 2014 aconteceu neste sábado, dia 14 de abril, às 16 horas. Este foi um momento histórico, pois quando começou a atuar em 2002 haviam apenas homossexuais masculinos, e depois de muito avanço nas questões de gênero na entidade, há mais mulheres do que homens na direção. Aos poucos as lésbicas foram chegando, e logo depois, as transexuais, e juntas passaram a serem importantes protagonistas políticas na entidade desenvolvendo os núcleos do Cellos Lés e Cellos Trans.

"As mulheres são maioria da população, entretanto, não é o que encontramos nos cargos de representação política. O Brasil é a 8ª economia do mundo, mas ocupa o 106º lugar no ranking mundial de participação política feminina no parlamento. Esta disparidade deve ser alvo de questionamento por parte de todos os movimentos sociais, partidos e sujeitos, que têm a democracia como princípio indispensável." Rosane Silva - Secretária Nacional da Mulher Trabalhadora da CUT. Fonte: Revista Mátria 2011

A decisão de que uma trans ocuparia a presidência e uma lésbica a vice-presidência foi feita de forma unânime por todas(os) as(os) militantes e isso demonstra o quanto a entidade, que completa seus 10 anos de existência neste ano, está amadurecida quanto aos debates sobre as  relações de gênero e discriminação. Além disso, as mulheres com sua autonomia e empenhada participação política  fizeram por merecer o espaço de poder conquistado no CELLOS-MG. 

Não podemos nos esquecer também o quanto as travestis e transexuais sofrem transfobia na escola, têm menos oportunidades no mercado de trabalho por causa do preconceito e ainda são discriminadas dentro do próprio meio LGBT.  Uma trans na presidência do CELLLOS-MG só reafirma o compromisso da entidade em lutar por uma sociedade igualitária e sem qualquer espécie de preconceito.

“O papel do Cellos é fundamental. Senão, eu seria mais uma na multidão. A oportunidade e o apoio que o Cellos abre pra mim e para minha comunidade é motivo de orgulho. Hoje eu me sinto como uma ponte segura, porque eu tenho outras meninas que chegam a mim para falar dos problemas... porque eu sei o que uma travesti precisa e sua necessidade. Assim, para mim, fica muito mais fácil com o apoio e estrutura do Cellos. Minha obrigação, representando uma instituição, é eu ir ao encontro delas”
Anyky Lima, Presidente do CELLOS-MG Fonte: www.muza.com.br

Nova direção do CELLOS-MG na gestão 2012/2014:

Presidente - Anyky Lima
Vice-Presidente - Grazielle Medeiros
1ª Secretária - Michela Galvão
2º Secretário - Roberto Dutra
1º Tesoureiro - Álvaro Boechat
2º Tesoureiro - Mateus Uérlei
Conselho Fiscal - Andréia Michaelsen, Thayla Rocha e Gustavo Teixeira.

Fotos deste momento político histórico:







terça-feira, 17 de abril de 2012

"Quem vem com tudo não cansa" (sobre os 10 anos do CELLOS-MG)


Os sonhos coletivos têm mais possibilidade de tornarem-se realidade. Esta foi a lição que aprendi logo no início da minha militância social, nos finais dos anos 80. Por volta dos anos 2000, quando a luta contra AIDS ainda era a pauta central dos movimentos sociais LGBT’s, sete militantes de trajetória de vida e política diferentes, resolveram unificar em um sonho individual: construir uma organização que lutasse pelos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais – LGBT e que tivesse uma atuação permanente no enfrentamento à homofobia.

História

No bate papo na mesa Bar “Lobo Mal”, no bairro Floresta, na capital mineira, surge a ideia do Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais – CELLOS-MG, uma ONG, que foi lançada em 09/03/2002, no Sindicato da Saúde – SINDESS e que completa 10 anos de existência.

Para alguns, este fato é indiferente, não tem importância. Já para os militantes LGBT, que sabem o valor dos anos dedicados à luta coletiva, o aniversário de uma organização LGBT é sempre motivo de comemoração. Há dez anos, a conjuntura LGBT era bem diferente – época que para ir à Parada, era necessário usar máscaras e tomar a decisão de assumir-se sem disfarces era para poucos.

O uso da internet era restrito. Os espaços de socialização e de freqüência GLS eram quase inexistentes. Locais para namoro e/ou práticas sexuais eram bem menor do que o atual. E o movimento LGBT tinha pouca visibilidade. Afinal, estamos falando de 10 anos atrás e da tradicional e conservadora capital mineira! Assumir-se gay ou lésbica e colocar parte de sua vida a serviço de uma ação coletiva homossexual, não era tarefa fácil.

Conquistas

Foi num contexto adverso que surge o CELLOS-MG. Desde o início, a garra de seus membros, trilharam um novo caminho rumo a garantir os direitos LGBT e combate a homofobia. A trajetória do CELLOS-MG não é só de alegria. Houve momentos difíceis, de tensões, crises, onde muitos desistiram da militância e foram cuidar da vida, mas é, fundamentalmente, marcada pela persistência e convicção de um projeto político que a entidade acredita e luta para implementar na sociedade.

Feita por alguns anônimos, outros mais conhecidos, a história do CELLOS-MG traz consigo um conjunto de vitórias que, sem dúvida, contribuíram para melhoria da vida de milhares mineiros LGBT´s. Não há nenhuma conquista sem a intervenção, contribuição e a pressão do movimento social. A decisão histórica do Supremo Tribunal Federal, aprovada em maio de 2011, que reconhece os direitos e deveres aos casais do mesmo sexo; as políticas públicas prol-LGBT no executivo e as Paradas do Orgulho LGBT, que mobilizam milhões de pessoas pelo país, se devem a atores e atrizes que resolveram romper com isolamento social e deram um basta na opressão. Decidiram transformar sua orientação sexual e identidade em ação política.

Vários indivíduos que subverteram a norma. Transformaram o tesão, o amor, o objeto de prazer e as práticas sexuais em política. Mostraram que a sexualidade não deve ser motivo de opressão e preconceito. A militância LGBT, nos seus vários grupos e ações, conseguiram colocar na arena pública o debate dos direitos civis LGBT’s e combate ao preconceito. Enfim, a homofobia apareceu, desmistificando a cordialidade brasileira, país que se acredita não ter violência e preconceito.

Estamos melhores do que há 10 anos atrás.Várias conquistas sedimentam o caminho de uma real cidadania LGBT. Mas ainda temos muitos desafios. O sonho se torna realidade através das mãos de gente de carne e osso. É preciso, cada vez mais, homens e mulheres com os corações e mentes tomados pelo sonho de justiças e liberdade assumiram a luta LGBT. Certamente, são os objetivos dos militantes cellistas. Nestes seus 10 anos de existência deixo a minha saudação a quem luta, a quem tem coragem e a todos e todas militantes do CELLOS.

Carlos Magno é secretário de comunicação da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgênero (ABGLT), coordenador do entro de Referência pelos Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais de Belo Horizonte(CRLGBT-BH) e militante do Centro de Luta Pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais (CELLOS-MG).

Fonte:  http://www.muza.com.br/2012/03/colunazs-quem-vem-com-tudo-nao-cansa.html
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